Certamente, não serei inovador. Mas, se há uma coisa que sempre ocupou
meus pensamentos – não que chegue a incomodar -, é essa enxurrada, que sempre
existiu, de palavras, frases, pensamentos, artigos, livros e tratados baseados
no autoestímulo. Se eu pudesse resumir todos eles numa simples frase, eu
escreveria algo como: "pense positivo, só você é capaz de transformar seu
futuro... Para melhor". Algo assim. Todo o resto é variação sobre o mesmo
tema.
Também certamente, se alguém vier a ler esse texto, serei taxado de
fatalista, pessimista ou outras alcunhas menos respeitosas. Não me importo. Até
entendo a necessidade das pessoas, seja em momentos difíceis ou não, de ler ou
ouvir algo estimulante; mas, pautar toda uma existência pela pesudofelicidade,
para mim, é um exagero cruciante.
A verdade é que, sim, somos responsáveis pelos nossos atos e
pensamentos, mas não pelos dos outros os quais, praticamente em 100% dos casos,
tem maior influência em nossas vidas do que desejamos. Poder-se-ia perguntar:
mas, e se todos fossem poços de autoajuda ambulantes? E se todos pautassem seus
comportamentos e pensamentos pela assim chamada lei da atração? Não seríamos
todos felizes?
A resposta é definitivamente negativa. Seríamos universos isolados em
nós mesmos.
Toda sorte de transformação só pode ser efetivada através de interações
interpessoais, positivas e negativas. Muito mais claro que os pensamentos
bonitos e estimulantes seria identificar quais os elementos que compõem essa
equação. Identifiquei os dois principais: capacidade e fortuna.
Utilizo o termo fortuna propositadamente porque ele tem, à vista, dois
corolários bem definidos: a sorte e o capital.
Nenhum dos dois elementos – capacidade e fortuna – está completamente
sob nosso controle e nenhum pensamento positivo é capaz de trazer incrementos
significativos deles. Obviamente, o pensamento positivo tem pequena influência
no ânimo de perceber a realidade, mas só isso.
Há, também, a errônea impressão de que capacidade é um elemento
objetivo, que pode ser adquirida indiscriminadamente. Não, infelizmente não é
assim. Cada ser pensante tem seu limite de aquisição de capacidade. É como se
tivéssemos um limite de espaço de armazenamento. Isso, sem considerar o meio,
que pode ser mais ou menos propício para essa aquisição.
Por outro lado, a fortuna é elemento que, conceitualmente, depende ou de
terceiros ou do acaso, ou seja, completamente não influenciável pelo autoestímulo.
Capital não se cria, ele sempre provém de terceiros. E a sorte é integralmente
ligada ao acaso. É óbvio que podemos estabelecer linhas de força, que delimitariam
nossa suscetibilidade de ser influenciados pela fortuna... Mas que ela é
fortuita, é; em maior ou menor grau, segundo a percepção de cada um.
Enfim, o que estou tentando explicar – e até me convencer - é que não há
menor chance de ser completamente realizado somente com pensamentos positivos.
Eles até podem ser alentadores em determinados momentos, mas são muito
cansativos. Porque trazem em si uma carga de esperança doentia. Novamente, se
eu pudesse resumir numa frase (mais do que uma, neste caso), eu diria:
"ok, estou sofrendo, estou triste...mas, tudo bem, não vou pensar nisso,
vou pensar positivo que tudo vai se resolver". Desculpe a sinceridade, mas
não vai.
Somente com um balanço ideal (que não existe) de capacidade e fortuna é
possível a transformação. E esse balanço é altamente problemático. Capacidade
sem fortuna gera loucura. E fortuna sem capacidade gera tirania. Por certo, há
uma enorme zona cinzenta entre os dois extremos. O segredo (sem nenhuma alusão
ao filme homônimo) é convivermos com as constantes alterações das grandezas
dessa equação.
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