segunda-feira, 3 de abril de 2017

Sonet...

Sê tarde. Traz agora. Marca já. Não vês
Alarde. Fere a hora. Tu, que de não ter
Lustros contato, vais e tateias. A crer,
Virago. A crer! Já que desimporta a tez.

E arde, inodora. Noite má. Lacerar
Minh’arte. Castiga meu centro e transfigura
-me o cerne nu. Não me concerne, crê tu, ver-
Me verme! Ah, justo agora no meu cantar...

E pranto visço não é. Luz não é pavor
!!! Breu não é candente. É, d’outro, mistura
De nada com coisa alguma. Deságua a Dor.

...
...
...

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Final+idade


Bem, há um bom tempo não escrevo. Há diversas razões para tal, as quais não vêm a talho. Contudo, havia algo latente em meus pensamentos - e sempre há - que acontecimentos recentes fizeram-no vir a lume. Senão, vejamos.

O tema tem a ver com a noção  de finalidade dos elementos presentes e comumente perceptivos que, para melhor organizar o imbroglio que se avizinha, rebatizo de vetores.

Em realidade, o termo vetor está emprestado da Física e, melhor adaptando a este protótipo de ensaio, há que ser dividido entre vetores estáticos e vetores dinâmicos. Espero que isso faça algum sentido mais adiante.

Enfim, vejamos se consigo desenvolver e desenrolar esse novelo de percepções-vetores. Comecemos pelo que parece mais simples: os estáticos.

Antes disso, voltando à noção de finalidade, a meu sentir, a finalidade de uma percepção, ou vetor, é de não ser o seu antônimo. Desta feita, dando um exemplo bem caricato, novamente emprestado da Física, pode-se dizer que a finalidade do branco é não ser preto. Subindo um pouco de nível: a presença de todas as sortes de luz, que resulta no branco, tem por finalidade não ser a total ausência delas, que resulta no preto e vice-versa. Agora, deixemos as luzes de lado e teremos que a finalidade de presença é, simplesmente não ser ausência, sendo, o contrário, por derivação lógica, também verdadeiro (que, por sua vez, tem a finalidade de não ser falso).

No caso, branco e preto, presença e ausência, verdadeiro e falso, são o que eu ouso designar de vetores estáticos. Quero dizer, se não for exercida alguma força ou estímulo, o branco continuará perpetuamente branco, sempre tendo como finalidade não ser preto, e assim, respectivamente, por diante. Assim como o longe está para o perto, o bonito está para o feio, o aberto está para o fechado, et caterva.

Pois bem, sigamos para o vetor dinâmico, ou seja, as percepções que são sujeitas a naturais forças modificadoras, extrínsecas e/ou intrísecas.  E é aqui que reside a principal complicação. O ser humano tem a natural propensão de estabslecer dois pontos extremos para vetores dinâmicos.

Por exemplo: é muito comum dizer: todo começo tem um fim. Bem, à primeira vista, pareceria que a percepção de começo seria um vetor dinâmico e, a de fim, estático, ou seja, pronto, depois do fim não tem mais nada, o vácuo, o limbo, a antimatèria ou o que o valha.

Oras!  Se o fim fosse estático, nenhuma percepção seria possível, lembrando que o termo finalidade deriva, não por acaso, justamente, de fim. Desta feita, sem um vetor é dinâmico (como o é o começo) ele só pode ser percebido com tal, ser permanecer perpetuamente dinâmico. Se não o nada, o nihil, o limbo, reinariam (e isso não é possível, porque, só para dar um exemplo matreiro, eu estou aqui escrevendo e você esta aí lendo - isso mesmo! Vivemos na terra do gerúndio!). Ops! E, então, meu caro, como è que fica a história do antônimo? Explico, ou, pelo menos, tento.

Temos que transformar o antônimo pseudo-estático em dinâmico e, para tanto, para não ficar bricando de gerúndio (que redundaria num chatíssimo começando, terminando, etc.), temos que, por mais forçoso e estranho que seja, renominar o tal antônimo pseudo-estático. Mas, de quê?

Bem, vou tentar ser claro: todo vetor dinâmico, para os fins deste ensaio, forçosamente, é cíclico, ou seja, tem si próprio por finalidade e essa história de por um fim a todo começo é um recurso ilógico e impossível que a mente humana se auto impõe com o único objetivo de fugir do inevitável - e, normalmente, doloroso - conjunto de ciclos que é a e explicação de tudo existir (ou continuar existindo, caso prefiram).

Trocando em miúdos: todo começo tem como finalidade o próprio começo. Pode ser o mesmo começo, no caso, um recomeço ou, se assim não seja, um outro começo. E o tal termo fim somente pode ser entendido como fuga mental, até natural, para negar o moto contínuo, o infinito.

Este é o fim deste texto, o que nada mais è que um começo ou recomeço.

Que recomeço ou recomeço? Ótima pergunta. Não a vou responder, de propósito.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

O Peso do Passado.


Pesado P E S S A D O Passado.
P
 A
   Z
     E
       D
          O

sexta-feira, 7 de junho de 2013

A Teoria do Desespero.

Categorizar o desespero é um desafio inglório. Na verdade, o desespero é uma válvula de escape do medo. Medo do desconhecido que, na realidade, é o único medo legítimo. Explico. Medo do escuro, fotofobia, crise de pânico, claustrofobia, e tantas outras fobias mais esquisitas, são desequilíbrios do balanço bioquímico e, por tal, podem se tratados com os respectivos antídotos... também químicos, por certo.

Já o desespero puro é intratável, pois o descontrole não é gerado por um distúrbio do meio e, sim, de uma paúra interna, de uma modificação do estado emocional em face do “que será”?

O “que será?”, na verdade, é um antagônico do dever-ser, vale dizer: um desvio daquilo que o assim chamado bonus paterfamilae prevê como reação a uma ação inesperada (nesse ponto, recomendo a leitura do tópico em que tratei da relação de Newton com Sun Tsu, tempos atrás).

O desespero, assim, é o afloramento do sentimento mais íntimo não testado. É o sofrimento diante da primeira vez e um apego à esperança de que as outras vezes sejam semelhantes. Mas nunca as são.

O desespero deve ser combatido com todas as forças. Seu afloramento revela fraquezas que, até então, eram desconhecidas do meio. Essas fraquezas, as mais das vezes, provocam reações negativas. Até o dó e a piedade são carregados de elementos negativos de solidarização falsa.

Em resumo, um dos grandes desafios do racional é conter do desespero. É, praticamente, repetir como um mantra, a frase que ficou eternizada em inúmeros filmes de guerra americanos: put your shit together.

Em outras palavras, o nosso consciente deve ter noção do momento exato de acionar o gatilho anestésico para neutralizar o afloramento do estado  desesperado (que é uma revelação externa do subconsciente). O controle do momento exato de acionar esse gatilho é praticamente impossível. Adiantar-se =e chamar para si a condição de insensato e, postergá-lo... bem... se o momento já tiver passado, a transformação e a decepção são  inexoráveis e indeléveis. Aquele momento será registrado fotograficamente e constará indefinidamente da existência futura.

Empreguei o termo “praticamente” de forma proposital. Do ponto de vista teórico, estabelecer limites de força de mania e de depressão é possível. No cotidiano, no entanto, a surpresa e a conspiração do acaso derrubam qualquer constante dessa equação.


Enfim, qual o resultado da análise? É que o desespero, mesmo que esperado e conhecido, é incontrolável. A questão é como reagir após; como eliminar as más impressões e, para tanto, existem diversas maneiras, podendo-se destacar, em ordem decrescente de ocorrência: a dissimulação, a tergiversação, a omissão e a busca da inimputabilidade.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Persona

Por que existe a persona? Para mim é simples. Para esconder o verdadeiro eu. O problema é que o verdadeiro eu é, quase sempre, desconhecido. E essa luta para descobri-lo é dolorosa. O mais comum é que se desista e se viva a persona. Mas há pessoas que estão vinculadas ao verdadeiro eu que não conhecem e que domina a persona. Mas o verdadeiro eu não quer ser descoberto. Ele impõe muitas barreiras, normalmente intransponíveis, para não ser descoberto, por uma razão muito simples: sabe que decepcionará a persona, já que essa última é uma construção do ideal, enquanto a primeira é, justamente, o contraponto que se quer fugir. Sorte de quem consegue. Quando se escreveu que o “homem é o lobo do homem” não se quis dizer que a sociedade corrompe o homem. Na verdade, é o verdadeiro eu que corrompe a persona para que ela continue sendo, justamente, persona, u'a máscara. Vale, aqui, relembrar, que, segundo o que já escrevi, a verdade não existe. É só uma projeção da vontade e do coletivo.  

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Fim da “normalidade”.


Qual é a relação entre a loucura e a morte? Bom, prefiro começar pela segunda. Queiramos ou não, a morte é nossa aliada; quem sabe lidar com ela, tem mais claro qual o significado da vida. Não quero entrar em aspectos ideológicos ou religiosos, já que, por mais úteis que possam ser para alguns, têm o condão de nublar uma análise mais prática e – por que não? - mais realista.
Enfim, a morte é nossa companheira, está ao nosso lado, tem-se que aprender a conviver com ela. Não seria demais dizer – por mais chavão que possa parecer – que é a única certeza que temos na vida. Então, ela deve ser entendida com um simples e verdadeiro contraponto. A vida só pode ser entendida como tal, porque a morte existe, e vice-versa.

Entender-se com a própria morte é, em última análise, ter consciência de que existe um fim. É certo que existem aqueles que acreditam que o fim é, nada mais, que um recomeço. Confesso que tenho certa simpatia pela teoria. Mas meu lado agnóstico somente me permite dar a isso, no máximo, o benefício da dúvida. Só.

E o que é, de fato, um fim, nos termos aqui tratados? O fim é uma transformação profunda naqueles que permanecem. Explico. A tendência é uma guinada intensificada nos sentimentos para com o perecido. O amor tende a virar ou ódio ou obsessão, sempre acentuados. E o ódio, por sua vez, transveste-se de adoração e, o que é mais ignóbil, num misto sentimento de pena e regozijo.

O que os que permanecem não percebem é que se prender a um fim alheio é amargar o sentimento e o sofrimento de outrem. É encomendar para si algo que não lhe pertence. É dar azo a primitivos e instintivos impulsos. Em resumo, é vestir-se com uma roupa que não lhe cabe.

Decorre de tudo isso que, sem sombra de dúvidas – para mim pelo menos -, a tristeza, entendida como sentimento puro e simples, não existe. A tristeza é uma máscara que é criada para esconder sentimentos que não se quer revelar. Mais ainda, que se quer, a todo custo, esconder, seja por serem vergonhosos mesmo, ou porque são tão íntimos que passam a ser irreveláveis.

Acontece que não se pode sustentar a máscara – justamente por ser máscara – por muito tempo. Obviamente, muito é um termo relativo e, nesse meu devaneio, somente significa a impossibilidade do eterno; vale dizer, se a única certeza é o Fim (propositalmente grafado com maiúscula), o eterno, assim como a tristeza pura, não existe.

OK. Mas, voltando à primeira frase do que ouso escrever: o que a loucura tem a ver com a morte? Bem, não é assim tão simples explicar, já que o termo loucura, por si só, é muito controverso. Destarte, vou reduzi-lo – e não me envergonho desse meu impulso minimalista – ao simples estado de alteração mental que não se encaixa no que se ousou definir como “normalidade” (propositalmente grafado entre aspas).

Levando esses pré conceitos em consideração, a loucura nada mais é do que o bom conviver com o conceito de morte. É entender que ela é a nossa única companheira fiel e que a tratar bem nada mais é do que encarar a realidade como é; como, de fato, se apresenta. Essa minha conclusão parcial leva, necessariamente, a uma outra conclusão – essa, menos parcial: de que a loucura está muito mais próxima da “normalidade” do que o normal. É um paradoxo, até mesmo vicioso, mas verdadeiro.

Aqueles que são encaixados nos perfil da “normalidade” nada mais são do que indivíduos que consideram a tristeza pura como viável, que se consideram capazes de suspender a máscara eternamente, e que, então, não bem convivem com o Fim.

É verdade que é possível apaziguar a loucura com artifícios químicos; mas, nesse caso, o apaziguamento serve, mais propriamente, para acalentar os sentimentos dos “normais”, que se sentem, obviamente, muito incomodados de serem confrontados com a extrema fragilidade da autoimposta “normalidade”.

A loucura, assim, como a morte, tem o especial papel de demonstrar que a “normalidade” é artificial; que é uma realidade construída para ser confortável, para esconder o verdadeiro Fim da vida que, aqui, já pode ser conceituada como a verdadeira finalidade da vida.

O dia em que a maioria da Humanidade dar-se o deleite de se prender menos à “normalidade” e dar asas a loucura – tal qual, de forma minimalista, busco definir -, talvez, uma boa convivência com o Fim trará melhores id's, menos afetados por alter-egos frustradores, obsessores e castradores. Parece forte, mas não é. É, tão simplesmente uma verdade que somente a loucura pode explicitar.

Sinto muito. Mas sem tristeza, porque não me permito dominar pelo que, em última análise, não existe; não, pelo menos, na forma pura, que a “normalidade” tenta impor.

Conviver cotidiana e salutarmente com o Fim é permitir-se desvencilhar do esteriótipo do “normal”, assim como o é do “justo” e do “temível”. Mas, com relação a esses dois últimos - “justo” e “temível” - terei que me aventurar em um novo pseudo-ensaio, para o que procurarei, oportunamente, investir mais fosfato, sem temer o Fim, por óbvio.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Capacidade e Fortuna


Certamente, não serei inovador. Mas, se há uma coisa que sempre ocupou meus pensamentos – não que chegue a incomodar -, é essa enxurrada, que sempre existiu, de palavras, frases, pensamentos, artigos, livros e tratados baseados no autoestímulo. Se eu pudesse resumir todos eles numa simples frase, eu escreveria algo como: "pense positivo, só você é capaz de transformar seu futuro... Para melhor". Algo assim. Todo o resto é variação sobre o mesmo tema.

Também certamente, se alguém vier a ler esse texto, serei taxado de fatalista, pessimista ou outras alcunhas menos respeitosas. Não me importo. Até entendo a necessidade das pessoas, seja em momentos difíceis ou não, de ler ou ouvir algo estimulante; mas, pautar toda uma existência pela pesudofelicidade, para mim, é um exagero cruciante.

A verdade é que, sim, somos responsáveis pelos nossos atos e pensamentos, mas não pelos dos outros os quais, praticamente em 100% dos casos, tem maior influência em nossas vidas do que desejamos. Poder-se-ia perguntar: mas, e se todos fossem poços de autoajuda ambulantes? E se todos pautassem seus comportamentos e pensamentos pela assim chamada lei da atração? Não seríamos todos felizes?

A resposta é definitivamente negativa. Seríamos universos isolados em nós mesmos.

Toda sorte de transformação só pode ser efetivada através de interações interpessoais, positivas e negativas. Muito mais claro que os pensamentos bonitos e estimulantes seria identificar quais os elementos que compõem essa equação. Identifiquei os dois principais: capacidade e fortuna.

Utilizo o termo fortuna propositadamente porque ele tem, à vista, dois corolários bem definidos: a sorte e o capital.

Nenhum dos dois elementos – capacidade e fortuna – está completamente sob nosso controle e nenhum pensamento positivo é capaz de trazer incrementos significativos deles. Obviamente, o pensamento positivo tem pequena influência no ânimo de perceber a realidade, mas só isso.

Há, também, a errônea impressão de que capacidade é um elemento objetivo, que pode ser adquirida indiscriminadamente. Não, infelizmente não é assim. Cada ser pensante tem seu limite de aquisição de capacidade. É como se tivéssemos um limite de espaço de armazenamento. Isso, sem considerar o meio, que pode ser mais ou menos propício para essa aquisição.

Por outro lado, a fortuna é elemento que, conceitualmente, depende ou de terceiros ou do acaso, ou seja, completamente não influenciável pelo autoestímulo. Capital não se cria, ele sempre provém de terceiros. E a sorte é integralmente ligada ao acaso. É óbvio que podemos estabelecer linhas de força, que delimitariam nossa suscetibilidade de ser influenciados pela fortuna... Mas que ela é fortuita, é; em maior ou menor grau, segundo a percepção de cada um.

Enfim, o que estou tentando explicar – e até me convencer - é que não há menor chance de ser completamente realizado somente com pensamentos positivos. Eles até podem ser alentadores em determinados momentos, mas são muito cansativos. Porque trazem em si uma carga de esperança doentia. Novamente, se eu pudesse resumir numa frase (mais do que uma, neste caso), eu diria: "ok, estou sofrendo, estou triste...mas, tudo bem, não vou pensar nisso, vou pensar positivo que tudo vai se resolver". Desculpe a sinceridade, mas não vai.

Somente com um balanço ideal (que não existe) de capacidade e fortuna é possível a transformação. E esse balanço é altamente problemático. Capacidade sem fortuna gera loucura. E fortuna sem capacidade gera tirania. Por certo, há uma enorme zona cinzenta entre os dois extremos. O segredo (sem nenhuma alusão ao filme homônimo) é convivermos com as constantes alterações das grandezas dessa equação.