Categorizar o desespero é um desafio
inglório. Na verdade, o desespero é uma válvula de escape do medo.
Medo do desconhecido que, na realidade, é o único medo legítimo.
Explico. Medo do escuro, fotofobia, crise de pânico, claustrofobia,
e tantas outras fobias mais esquisitas, são desequilíbrios do
balanço bioquímico e, por tal, podem se tratados com os respectivos
antídotos... também químicos, por certo.
Já o desespero puro é intratável,
pois o descontrole não é gerado por um distúrbio do meio e, sim,
de uma paúra interna, de uma modificação do estado emocional em
face do “que será”?
O “que será?”, na verdade, é um
antagônico do dever-ser, vale dizer: um desvio daquilo que o assim
chamado bonus paterfamilae
prevê como reação a uma ação inesperada (nesse ponto, recomendo
a leitura do tópico em que tratei da relação de Newton com Sun
Tsu, tempos atrás).
O
desespero, assim, é o afloramento do sentimento mais íntimo não
testado. É o sofrimento diante da primeira vez e um apego à esperança de que
as outras vezes sejam semelhantes. Mas nunca as são.
O
desespero deve ser combatido com todas as forças. Seu afloramento
revela fraquezas que, até então, eram desconhecidas do meio. Essas
fraquezas, as mais das vezes, provocam reações negativas. Até o dó
e a piedade são carregados de elementos negativos de solidarização
falsa.
Em
resumo, um dos grandes desafios do racional é conter do desespero.
É, praticamente, repetir como um mantra, a frase que ficou eternizada
em inúmeros filmes de guerra americanos: put your shit
together.
Em
outras palavras, o nosso consciente deve ter noção do momento exato
de acionar o gatilho anestésico para neutralizar o afloramento do estado desesperado (que é uma revelação externa do subconsciente). O
controle do momento exato de acionar esse gatilho é praticamente
impossível. Adiantar-se =e chamar para si a condição de insensato e,
postergá-lo... bem... se o momento já tiver passado, a
transformação e a decepção são inexoráveis e indeléveis. Aquele momento será registrado fotograficamente e constará indefinidamente da existência futura.
Empreguei
o termo “praticamente” de forma proposital. Do ponto de vista
teórico, estabelecer limites de força de mania e de depressão é
possível. No cotidiano, no entanto, a surpresa e a conspiração do acaso
derrubam qualquer constante dessa equação.
Enfim,
qual o resultado da análise? É que o desespero, mesmo que esperado
e conhecido, é incontrolável. A questão é como reagir após; como
eliminar as más impressões e, para tanto, existem diversas
maneiras, podendo-se destacar, em ordem decrescente de ocorrência: a
dissimulação, a tergiversação, a omissão e a busca da
inimputabilidade.
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