sábado, 15 de agosto de 2009

Com vivendo...

Esta semana me peguei perdido em muitos pensamentos esparsos, uma verdadeira colcha de retalhos e, ao tentar juntar todos eles, não consegui uma linha de raciocínio suficientemente coerente para desenvolver um tema específico digno para este blog.

Esta aparente “normalidade”, na verdade, me incomodou bastante. E, na verdade, acabei por me perguntar: será que essa “normalidade” é, mesmo, um sinal negativo? Por que será que sempre as pessoas esperam que algo excepcional aconteça para que considerem que a vida esteja valendo a pena?

A conclusão indelével que acabo de chegar – na verdade, nada genial – é que a vida, na realidade, é uma sequência enfadonha de mesmice, pontuada de alguns momentos muito felizes e outros muitos tristes. E ..., no final das contas, é bom que seja assim!

E estes momentos – tanto os muito felizes, como os muito tristes – servem, creio eu, para lembrar-nos do quanto são bons aqueles outros que, normal e erronamente, consideramos uma enfadonha normalidade.

O principal desafio, então, é manter as expectativas baixas o suficiente para que a falta de felicidades estrondosas constantes não gere frustração e, no momento em que elas venham, sejam consideradas momentos especiais para serem guardados na memória e capitalizados pelo maior tempo possível.

Não só os momentos felizes devem ser capitalizados, por óbvio. Os extremamente tristes devem ser encarados como contraponto, como parâmetros de comparação. E aí que começa a fazer sentido uma frase que, há muitos anos, ouvi numa aula de Filosofia, de um tal Professor Café Filho, que para uma audiência enfadada e sonolenta, literalmente, filosofava:

-- Olhem para aquela porta! O fato dela estar fechada somente serve para confirmar a mera possibilidade dela, em algum momento, estar aberta! Caso contrário, ela simplesmente “estaria” (isto é, nem aberta, nem fechada).

Naquele momento, pareceu-me algo completamente supérfluo, desnecessário e uma verdadeira “forçação de barra” do óbvio. Não que tenha melhorado muito agora mas, um pouco mais maduro, começo a acreditar que o óbvio é bom, ou seja: que esperar que os resultados sejam aqueles normalmente aguardados é uma espera saudável, enquanto a espera por algo excepcionalmente bom (ou ruim) é geradora de ansiedade maléfica.

Não digo que alimentar sonhos seja ruim. Muito pelo contrário. Alimentar certos sonhos e objetivos – mesmo os utópicos – há de ser saudável, desde que tenhamos a exata dimensão da real possibilidade deles virem a se tornar realidade. E mais: a perseguição de tais sonhos não pode ser um mero aguardo de que o “Universo” venha a conspirar sozinho a favor deles; tem que ser algo ativo, a final ninguém jamais ganhará milhões na loteria se não jogar, não é mesmo?

E absolutamente falo só de dinheiro. Para ganhar na loteria da vida, há que se fazer apostas constantes e ter em conta que, normalmente, elas serão perdidas. Neste jogo (da vida) vale, então, a constância e a persistência.

Talvez a grande culpada desta ansiedade que assola a humanidade nos tempos atuais seja a velocidade astronômica com que as informações são dispersadas. O fluxo desenfreado resultante do avanço tecnológico leva as pessoas, muitas vezes, a transportarem-se para modelos sociais muito distantes das próprias realidades e, no final, essas mesmas pessoas esquecem-se que, em primeiro lugar, devem se sobressair no meio em que vivem, isto é, devem se livrar do ponto de acomodação que as tornam medíocres, indistintas.

Enfim, o correto seria uma incessante busca de crescimento pessoal com as ferramentes disponíveis no tempo e no espaço onde o indívíduo está inserido. A cada fase de tal crescimento, um novo degrau será alcançado, somente para nos dar conta de que passamos a fazer parte de um novo grande grupo, do qual devemos reiniciar a batalha contra a mediocridade e a indistinção.

E é, justamente, nesta batalha diária que surgem os três sentimentos básicos que permeiam as relações humanas: a admiração, a cobiça e a inveja.

Sistematizando, num grau crescente:

Admiração é alegrar-se com que o outro tem ou é, tomando-o como parâmetro.

Cobiça é alegrar-se com que o outro tem ou é, e querer subtrair essa posse ou qualidade.

Inveja é alegrar-se com que o outro tem ou é, desde que ele perca essa posse ou qualidade.

Se comecei este texto e procurei desenvolvê-lo em altíssimo nível, não há como acabá-lo sem enaltecer os anônimos (e muitas vezes sábios) filósofos de pára-choques de caminhão:


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