terça-feira, 28 de setembro de 2010

Pineal

Já há algum tempo, estou perdido em meio algumas divagações pseudofilosóficas que, pensei, são debalde desinteressantes para aborrecer terceiros. Contudo, uma das vantagens de escrever para o léu é poder monologar livremente sem temer a crítica do invisível, além de, melhor ainda, não estar atado às amarras da assiduidade e da constância.

Vou a elas. Na verdade, não são algumas. Ocorrem-me, neste momento, duas: (a) torço, com todas as minhas forças para que lá no imo da glândula pineal esteja, realmente, a centelha divina. A grande explicadora do mistério (que, entre nós, não existe) e (b), esta um pouco matreira, senão antes jocosa: torço, com todas as minhas forças, que os "swivels", assim como entendidos por Benitez, realmente sejam a saída da reclusão do tempo-espaço.

Este não é uma ode ao ateísmo. Muito pelo contrário. Considero Deus como sendo a mais bela criação do intelecto humano, que o fez à sua imagem e semelhança, porém de forma infinitesimal. Assim, uma das frases mais interessantes e sábias nessa seara é: "Deus está presente em todos nós". Não se trata aqui do dom da ubiquidade ou do poder da onipresença, que soam muito mais eloquentes do que minha definição. Todavia, a verdade é que tal assertiva inclui Deus em cada porção do todo, sendo, este, o mais belo exemplo de sinédoque.

Mas a ligação de Deus aos pedúnculos cerebrais não é à toa. Pode parecer estranho mas, para mim, ela põe no mesmo balaio: Deus (como "representante" da religião, em geral), o Espiritismo (que não é religião) - sobre o qual não me manifestarei neste texto - e a Psiquiatria (que é cultuada como tal). Sim... a Psiquiatria, outra bela criação do intelecto humano para explicar as mazelas do cotidiano.

Um aviso: longe de mim desautorizar os Freuds, os Lacans e os afins.

Tenho que a Psiquiatria, em realidade, do ponto de vista purista, faz todo o sentido e é justificável tão somente como uma busca de explicação para o inexplicável. É a tergiversação viciosa por excelência! Nada mais é que a sanha humana de encontrar justificativas para as suas próprias atitudes (principalmente as más) que são fruto, em última análise e como é óbvio, de seu próprio intelecto e ações. Até aí, tudo bem: parabéns à Psiquiatria! Ela utiliza-se das mesmas ferramentas das religiões e, assim sendo, seus crentes estão intimamente ligados a uns dogmas que os venda.

A Psiquiatria evoluiu e ousou-se emprestar a ela uim quê xamanista. Imaginem só: um fulano fica batendo papo - fazendo "cara de conteúdo" - com outro, toma notas, eventualmente faz conjeturas; e isso por várias sessões. O paciente, obviamente, como todo mundo, tem problemas, preocupações, alegrias, tristezas, etc... Mas, sob os olhos do xamanismo mental moderno, os termos transmudam-se, respectiva e magicamente, para transtorno, patologia, mania, depressão, e assim vai. Palavras mágicas e assustadoras...

Se o xamanismo mental moderno se restringisse ao velho e bom "ombro amigo" - papel relegado, como de segunda importância, para a psicoterapia -, também não veria, eu, maiores consequências. Afinal, que mal tem desabafar com alugém que é pago para isso; ouvir conselhos de uma pesssoa mais experiente, etc.?

O mal, na verdade - e este é o ponto a que quero chegar -, reside em dois aspectos.

O primeiro é profissionalmente chamado de diagnóstico. O fulano do "ombro amigo", em meio às suas anotações tem, como primeiro objetivo, encaixar o queixoso em um esteriótipo (normalmente sem nenhum contorno definido, extremamente vago e amplo). Num passe de mágica, nosso coitado amigo triste vira portador de uma patologia mental, psíquica. Ou é bulímico, ou anoréxico, ou maníaco, ou deprimido; há ainda nomes mais pomposos: ciclotímico, transtornado afetivamente, etc.. Ah, não poderia deixar de citar um dos mais patéticos dos esteriótipos: é BIPOLAR.

Pronto. Conseguiu-se englobar num só diagnóstico quase todos os estados de humor. Não vou me alongar na parte técnica do assunto - nem tenho credenciais para tanto. Mas a verdade é que qualquer pesquisa sobre o tal "transtorno bipolar" esclarecerá que ele pode ser graduado de tal maneira ampla, que ele seve, literalmente, PARA TODO MUNDO.

Sim, sim, meu caro leitor - se é que você existe. Você, sem saber, é feliz portador de uma doença mental gravíssima - incurável, segundo a Psiquiatria - chamada TAB (transtorno afetivo bipolar ou transtorno bipolar do humor). Há bem pouco tempo, você teria ganhado uma alcunha ainda mais pomposa: psicótico maníaco-depressivo.

Esse primeiro problema - o do "diagnóstico" - nem é o que mais me incomoda. Certamente, há inúmeras pessoas que até gostam de se encaixar num grupo maior. De ter um nome bonito para se agarrar; enfim, de ter do que reclamar justificadamente, com certificado e tudo.

O segundo problema, no entanto, é gravíssimo. E ele é ligado ao plano da indústria farmacêutica de catequizar os xamãs de plantão, convencendo-os - com muitas benesses, diga-se - de que para cada panela existe uma tampa. Uma droga. E que o uso desta droga é fundamental para o bem viver, vitaliciamente. Vale dizer, em outras palavras, que a estratégia dos produtores de drogas legais, neste campo, é convencer nossos "ombros não tão amigos" de que TODOS nós necessitamos desses remédios, para a vida toda, sob os mais graves riscos.

E o que esses "remédios", enfim, fazem? A resposta: eles interferem, perigosamente, no equilíbrio bioquímico que torna cada um de nós único. Eles mesmerizam - ou pelo menos tentam - as oscilações de humor.

Trocando em miúdos, a perigosa simbiose lucro x utilidade, que permeia a produção de drogas psicoativas, é a principal causa da existência de uma horda incalculável de seres humanos praticamente autômata, atada a amarras químicas viciantes, que não a deixa externar suas emoções de forma espontânea; tudo em benefício do lucro.

As consequências disso tudo, deixo-as para o caro leitor. Que Deus nos proteja... Termino com uma frase de Fernando Pessoa, por ele mesmo: "Os Deuses são a encarnação do que nunca poderemos ser. O cansaço de todas as hipóteses..."

Um comentário:

  1. Olá!
    Vi seu post publicado no blog do vamp, muito interessante reflexão que concordo plenamente.
    Dai por curiosidade dei um googleda no seu nome e vi que vc tem um blog....assim vim parar aquí.
    Agor aque sei o caminho está nos meus favoritos.
    Abraços!!!

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