quinta-feira, 2 de junho de 2011

2.078?



O texto é brilhante. Conduz, o leitor, como um sofisma, a acreditar que Israel é o principal entrave à paz porquanto usa, pretensamente, como argumento, ser "superior", segundo os padrões ocidentais, aos seus vizinhos "islâmicos".

Míope, senão astigmático, no entanto. Explico.

Nem a imprensa americana - nem a blogosfera tupiniquim - vive, na pele, a realidade da região. Os argumentos citados - inclusive dos "anti-Palestina" - atendem, somente, a interesses que excluem o único que deveria interessar: o das pessoas que vivem, trabalham e dependem da região.

Um digno senhor que esteja em Nova Iorque, em frente ao seu computador com seu copo descartável da StarBucks tem a mesma visão que seu congênere, na mesma situação, que desfruta uma batida de açaí, qual seja: o interesse "mundial" numa paz (com letra minúscula, e sem negrito), que lhes seja conveniente.
Paz de conveniência. Não paz de essência.

Bom, só escrevo do que conheço pessoalmente, na pele. Não me atrevo a falar da situação dos curdos, porque nunca estive lá (e, nem o assunto, seria tão polêmico, e me traria certa visibilidade).

Comento da situação real da vida cotidiana de Israel, Jordânia e Egito, países onde posso circular livremente. São três situações incomparáveis. E não precisa ser nenhum especialista em sociologia para notar a brutal diferença das condições de vida nesses três países.

E a quem interessa essa condição? Ora, bolas: às pessoas que ali vivem. Não falo nem de IDH, democracia, etc., que podem ser considerados critérios "ocidentais" ou "europeus" demais.

Falo de comida na mesa, remédio na prateleira, sorriso no rosto, que são - ou deveriam - ser os verdadeiros critérios. Alguém que tenha a mínima noção dos idiomas locais e que ouse a escrever a respeito, que verifique quais são as principais reivindicações populares nestes lugares.

Não incluí os "palestinos", de propósito, nessa minha argumentação. Eles têm uma outra necessidade, que é tão necessária quanto comida na mesa: primeiro buscar e depois definir uma identidade que possa, um dia, evoluir para uma identidade nacional.

Pegar o número 1967 como ser fosse mágico é uma besteira: por que não 1947? 1973? Se as tais fronteiras - que não existiram – de 1967 fossem recompostas, o povo "palestino" deveria ser convidado a retornar aos lares "nacionais" de então. Jordânia e Egito que, como na época, hoje, também, não os querem.

Se as tais "fronteiras" forem recompostas, a criar um Estado sem território contínuo, o mundo está fadado a ver um novo Paquistão-Bangladesh, se é que alguém se lembra do que aconteceu por lá.

A questão, como se sabe, não é só territorial. Esse seria, em tese, o menor problema a resolver.

O problema maior é estabilizar, social e economicamente, um novo e hipotético Estado, para que seu povo, futura população, se interesse mais com sua própria identidade e crescimento nacional que com os do vizinho; para que os esforços criativos possam ser canalizados na produção inteligente de soluções dos problemas nacionais (futuros) básicos ao invés de centrados na dissiminação do ódio e destruição do vizinho.

O problema, assim, não está na concessão de terras e, sim, numa radical mudança cultural que, como sabemos, não ocorre em 63 anos. As sementes dessa mudança sequer foram plantadas.

Não tenho vocação para ptonisa, mas arrisco o palpite: o Estado Palestino será criado, na marra, como alardea-se por aí em Nova Iorque e na blogosfera. Resultado: legitimação e fixação geoterritorial de um conflito, que não vai acabar bem; muito pelo contrário.

Imagino como deverá ser, daqui uns 200 anos, se o mundo tal qual conhecemos ainda existir, o discurso em Nova Iorque: "precisamos restabelecer o Estado Palestino nas fronteiras de 2.033, ou seria 2.078?

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